Design gráfico ou arte? Branding Contemporâneo!

Julho 28, 2025

Design

Durante grande parte do século XX, a distinção entre arte e design gráfico parecia clara. A arte aspirava ao sublime, ao questionamento, à expressão individual. O design gráfico, pelo contrário, servia a função prática de comunicar, organizar e persuadir.

Hoje, no entanto, essa fronteira tornou-se cada vez mais ambígua. Sobretudo no campo do branding contemporâneo, onde a identidade visual de uma marca pode assumir a força e a relevância cultural de uma obra de arte.

A Herança Modernista e o Design como Linguagem Cultural

A partir do modernismo, o design gráfico começou a libertar-se da mera função utilitária e a reivindicar o seu estatuto cultural. Movimentos como a Bauhaus provaram que forma e função podiam conviver com estética e experiência. Esse legado continua presente no branding contemporâneo. Cada logótipo, cada sistema visual e cada peça de comunicação é, de certo modo, uma proposta estética sobre o mundo em que vivemos.

Quando observamos as campanhas da Apple, da Nike ou da Prada, percebemos que estamos perante um universo visual tão cuidadosamente construído que transcende o simples objetivo de vender. Torna-se linguagem cultural, tão discutida em revistas de design como em galerias de arte.

Branding como Performance Estética

Se a arte contemporânea já não se limita ao objeto físico, podendo ser performance, instalação, intervenção, também o branding deixou de estar preso a manuais gráficos. Hoje, uma marca é construída em tempo real, através de experiências, narrativas digitais e manifestações visuais que ocupam tanto o espaço público como o museológico.

Um exemplo claro é o caso da Gucci sob a direção de Alessandro Michele. As campanhas não se limitavam a apresentar produtos, mas funcionavam como colagens visuais e conceptuais, repletas de referências à história da arte, ao cinema e à cultura pop. A estética era tão central quanto a estratégia e a marca tornava-se palco de uma verdadeira performance.

"O design aproxima-se da arte pela sua dimensão estética e conceptual, e a arte aproxima-se do design pela sua apropriação de linguagens gráficas"

O papel do Design gráfico na Arte Contemporânea

Curiosamente, também a arte contemporânea tem vindo a apropriar-se do design gráfico. Muitos artistas utilizam tipografia, cartazes, imagens publicitárias ou logótipos como matéria-prima artística. Barbara Kruger, Jenny Holzer ou mesmo Banksy são exemplos de como a linguagem visual do design se transformou em ferramenta de crítica estética e política.

Assim, o caminho faz-se em duas direções. O design aproxima-se da arte pela sua dimensão estética e conceptual, e a arte aproxima-se do design pela sua apropriação de linguagens gráficas. O resultado é um espaço híbrido onde ambas coexistem e o branding é um dos terrenos mais férteis dessa hibridização.

Em Perspetiva

A fronteira entre design gráfico e arte está cada vez mais ténue porque ambas partilham hoje o mesmo território, o da criação de significado. Se a arte procura questionar e o design procura comunicar, o branding contemporâneo habita precisamente nesse espaço intermédio, em que comunicar também é questionar e em que questionar pode ser a forma mais eficaz de comunicar.

No final, talvez a verdadeira distinção já não seja entre arte e design gráfico, mas entre aquilo que é irrelevante e aquilo que é culturalmente marcante. E nesse campo, o branding contemporâneo mostrou que tem tanto a dizer quanto qualquer obra exposta numa galeria.

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