Brutalismo
No universo do design e da comunicação visual, poucas estéticas geram debates tão intensos como o Brutalismo. Originalmente associado à arquitetura do pós-guerra, com os seus blocos de betão cru e a ausência de sentimento, o Brutalismo renasce agora como linguagem na identidade das marcas.
Mas será apenas uma tendência passageira ou a afirmação de uma identidade sólida num mercado saturado pela suavidade minimalista?
O regresso do “Cru”
O branding brutalista afasta-se das linhas polidas, do “flat design” homogéneo e da previsibilidade das grelhas perfeitas. Contrariamente, aposta no choque visual. Tipografia pesada, cores vibrantes, ou o contraste duro do preto e do branco, composições assimétricas e uma recusa consciente da harmonia convencional.
Trata-se de uma estética deliberadamente desconfortável, que procura despertar no espectador uma sensação de autenticidade e frontalidade. Tal como na arquitetura brutalista, a beleza reside na honestidade dos materiais ou, no caso do design, na exposição crua da forma.
Contra a Suavização da Identidade
Durante mais de uma década, o branding global foi marcado pela tendência minimalista. Logótipos simplificados, interfaces limpas, uma homogeneidade quase universal. Basta observar os rebrandings de marcas como Burberry, Balenciaga ou até Mastercard para perceber o rumo adotado, tipografia sem serifa, cores planas, redução máxima.
O Brutalismo surge, assim, como contra-discurso. Representa a recusa de uma identidade estética domesticada e controlada. Marcas que adotam esta linguagem afirmam-se como disruptivas, rebeldes e capazes de resistir à padronização global.
"A identidade brutalista é um reflexo do nosso tempo, da nossa sociedade. Uma era de saturação estética, de marcas excessivamente polidas e previsíveis."
Entre Arte e Mercado
A proximidade do branding brutalista com a arte contemporânea é evidente. A estética aproxima-se da lógica performativa de incomodar para ser lembrado, chocar para não passar despercebido. É uma estratégia estética, mas também política, porque desafia o conforto visual a que estamos habituados no consumo digital.
É nesse sentido que o Brutalismo no branding não pode ser reduzido a uma mera tendência. Este traduz um posicionamento, a escolha consciente de rejeitar a neutralidade estética em favor de uma identidade radical.
Exemplos de Afirmação
Nos últimos anos, várias marcas emergentes no campo da moda, da música e das artes digitais recorreram a uma linguagem brutalista para se afirmarem. Plataformas culturais, festivais independentes e marcas voltadas para nichos criativos têm utilizado tipografias quase ilegíveis, layouts densos e cores gritantes para marcar a diferença.
O objetivo é claro, atrair públicos que rejeitam o mainstream e procuram identidades visuais que expressem autenticidade, resistência e ousadia. Neste contexto, o Brutalismo não é apenas um estilo gráfico, é um manifesto cultural.
Risco e Recompensa
Adotar uma identidade brutalista, no entanto, não é isento de riscos. Uma marca que assume este estilo de comunicação corre o perigo de alienar parte do público, sobretudo consumidores habituados à clareza e legibilidade do design minimalista.
Por outro lado, para segmentos jovens, urbanos e culturalmente atentos, o Brutalismo comunica uma mensagem poderosa de inconformidade. A recompensa, nesse sentido, está na capacidade de gerar afinidade identitária com segmentos específicos.
Tendência ou Identidade?
A resposta talvez esteja no equilíbrio. O Brutalismo pode ser visto como tendência estética quando usado superficialmente, apenas para captar atenção momentânea. Mas quando incorporado como expressão autêntica da visão e do posicionamento de uma marca, transforma-se em identidade.
Marcas que utilizam o Brutalismo como extensão coerente dos seus valores, de rebeldia, experimentação ou anti-conformismo, não criam apenas impacto visual, mas também profundidade cultural.
Em Perspetiva
O branding brutalista é um reflexo do nosso tempo, da nossa sociedade. Uma era de saturação estética, de marcas excessivamente polidas e previsíveis. Ao romper com essa homogeneidade, o Brutalismo oferece às marcas a oportunidade de se tornarem mais cruas, autênticas e memoráveis.
Mais do que tendência, o Brutalismo pode ser identificado como identidade, desde que seja vivido não apenas como forma, mas como discurso. Tal como na sua origem arquitetónica, a força do Brutalismo reside na coragem de mostrar o que é essencial, sem medo de expor o que está cru.
